Massacre em Suzano reacende discussão sobre violência que ronda estrutura educacional

Massacre em Suzano reacende discussão sobre violência que ronda estrutura educacional

Fábio Vale/JORNAL DE FATO

O massacre ocorrido nesta semana em uma escola estadual localizada na região metropolitana de São Paulo, que deixou dez mortos, reacendeu em todo o país a discussão em torno da violência que ronda a estrutura educacional. Apesar de nunca ter sido alvo de uma tragédia como essa registrada na cidade de Suzano (SP), o fato despertou o alerta das autoridades no Rio Grande do Norte.

Tanto é, que nesta semana, representantes da Secretaria de Estado da Educação e da Cultura (SEEC) se reuniram com uma equipe da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Civil (SESED) para tratar de temas como fortalecimento aos programas de segurança nas escolas e frutos de parceria entres as pastas, como Proerd e Ronda Escolar.

Para o titular da SEEC, Getúlio Marques, a avaliação do trabalho que vem sendo desenvolvido é importante e a readequação dessas ações se torna necessária para promover mais segurança aos estudantes potiguares. A preocupação com o assunto se dá, mesmo sem o Estado ter em seu histórico um caso de assassinatos coletivos em dependências escolares.

No entanto, a estrutura educacional potiguar já foi alvo de homicídios isolados, como o ocorrido no dia 30 de maio do ano passado, quando um jovem de 22 anos de idade foi executado a tiros dentro de uma escola municipal da cidade de São Gonçalo do Amarante, na região da Grande Natal. O assassino teria pulado o muro do colégio e atirado várias vezes contra a vítima, que morreu no local.

Outro crime contra a vida de bastante repercussão registrado nas dependências de uma escola no estado ocorreu no ano de 2013. Na época, um jovem de 20 anos foi morto a facadas no interior de um colégio estadual. O caso aconteceu em uma sala de aula no município de Porto do Mangue, na região Oeste potiguar, e foi apontado como a primeira ocorrência dentro dessa modalidade no estado.

Já em âmbito nacional, casos semelhantes foram mais recorrentes: em 2018, um aluno de 15 anos atirou contra colegas em uma escola do Paraná; em 2017, um garoto de 14 anos matou dois e feriu quatro em uma escola em Goiânia; e em 2011, 12 foram mortos em uma escola do Rio de Janeiro (massacre de Realengo), dentre outras ocorrências similares registradas em outras unidades de ensino do país.

RN tem 35 escolas estaduais com segurança armada e 226 com eletrônica

O Rio Grande do Norte possui 35 escolas estaduais com segurança armada e 226 com eletrônica. A informação foi divulgada nesta semana pela Secretaria de Estado da Educação e da Cultura (SEEC), após a realização de uma reunião com uma equipe da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Civil (SESED) para tratar de temas, como fortalecimento aos programas de segurança nas escolas e frutos de parceria entres as pastas, como Proerd e Ronda Escolar.

“Vamos identificar as escolas mais vulneráveis e chegar mais perto, definindo qual é o modelo mais adequado de promover segurança nas instituições”, afirmou na ocasião o titular da SEEC, Getúlio Marques. A importância do trabalho desenvolvido pelas forças de segurança direcionado para escolas no estado foi reforçada pelo número de alunos atendidos pelos programas de segurança.

Segundo dados apresentados na ocasião pela equipe da Sesed, em 16 anos de atuação, mais de 400 mil alunos foram beneficiados. As estatísticas mostram que somente no ano passado, a Polícia Militar realizou 4.250 visitas em 44 unidades estaduais de educação no estado. Só para o primeiro semestre deste ano, a previsão da secretaria é que 54 escolas sejam atendidas pelos programas. “O que a Cipred produziu entre os anos de 2015 e 2018, com uma estrutura reduzida, foi um milagre”, pontuou o coronel Araújo, titular da Sesed.

A SEEC informou que, com o encaminhamento da reunião, ficou definido que será estudada a ampliação da atuação da Ronda Escolar e das ações do Cipred junto às escolas, alinhada com ações já desenvolvidas pela secretaria no âmbito da conscientização para uma política de paz nas unidades de ensino. A reunião foi acompanhada também pelo coordenador do Núcleo Estadual de Educação para a Paz e Direitos Humanos, João Maria Mendonça.

CONSELHO DE PAZ

O Conselho Estadual de Promoção da Paz nas Escolas realizou nesta semana a primeira assembleia do ano. A atividade aconteceu em Natal e as instituições que compõem o grupo apresentaram propostas a serem trabalhadas no biênio 2019-2020, como a inserção de temas como prevenção da violência, gravidez na adolescência, drogas e automutilação em formações para gestores, professores e técnicos, planejamentos e até mesmo no currículo; como as leis estaduais 10.396 e 10.418, que instituem, respectivamente, o dia 7 de abril como Dia Estadual de Combate ao Bullying e à Violência na Escola, e a primeira semana do mesmo mês como a Semana de Combate ao Bullying e ao Cyberbullying. A próxima assembleia está prevista para o dia 2 de abril.

Governo Fátima Bezerra diz estudar ações para reduzir violência nas escolas

Após a repercussão do massacre ocorrido nesta semana em uma escola pública da região metropolitana de São Paulo, o Governo do Rio Grande do Norte anunciou que trabalha para reforçar as ações com o fim de melhorar a segurança pública nas escolas e o aprendizado.

Para isso, o Estado divulgou que se reuniu no início desta semana com técnicos de uma organização norte-americana e do Banco Mundial, um programa de redução de violência nas escolas implementado com sucesso na cidade de Chicago (EUA). A governadora Fátima Bezerra disse, na ocasião, que a atual administração tem conseguido reduzir a violência com planejamento e ações integradas e que esse trabalho não para.

“Nos dois primeiros meses do ano, reduzimos em 40% os homicídios, reduzimos também os feminicídios, assaltos, roubos de veículos. Mas, precisamos fazer mais, melhorar a educação, gerar empregos e renda, dar maior atenção às crianças e jovens. Isso também passa pela escola. Vamos, sem dúvida, buscar e implementar melhorias em todos os setores, como forma de dar mais cidadania e garantir os direitos constitucionais”, afirmou.

O programa apresentado ao Governo do RN é inédito no Brasil. Além do RN, apenas os estados do Ceará e São Paulo foram escolhidos pelo Banco Mundial. O programa atua com análise social, a compreensão e aceitação de padrões diferentes, sempre respeitando a individualidade.

ATENTADOS

O Corpo de Bombeiros do Estado do Rio Grande do Norte (CBMRN) participou nesta semana de uma reunião com a Secretaria Municipal de Educação de Mossoró, diretores de escolas particulares, representantes da Apae e do Comdica para planejar o cumprimento da recomendação do Ministério Público Estadual que visa regularizar eventos temporários nas escolas. Ainda na ocasião, também foram discutidas ações de prevenção de atentados em escolas e propostas medidas como saídas de emergência.

Especialista Thadeu Brandão avalia que acesso limitado a armas impediu um massacre maior na escola em São Paulo

“Estamos nos alimentando social e culturalmente do ódio como forma de vivência e sociabilidade.” A afirmação é do sociólogo Thadeu Brandão, ao analisar os aspectos que permeiam casos como o ocorrido nesta semana em uma escola da região metropolitana de São Paulo, onde um massacre deixou dez mortos.

Para o especialista, o ocorrido não pode ser visto pela ótica partidária ou política comum. “Necessário ir além. Não temos como analisar as consequências políticas ou sociais do terror apenas. Já sabemos em demasia: levarão a mais policialização da sociedade, a mais medo do outro e a mais intolerância.”

Thadeu Brandão cita o massacre de Realengo, em 2011, para afirmar que o cenário é de um “terror sem ideologia política, pautado na extrema direita, na desconstrução do outro, seja por ele ser negro, homossexual ou mulher, seja por não concordar comigo é a tônica de uma sociedade que já mata em demasia exatamente jovens, pardos e negros, moradores de periferia, com baixa escolaridade e renda”.

Ele defende que é preciso assumirmos a defesa dos direitos humanos, da democracia, do domínio do Estado de direito e de outros tópicos. “Entramos numa nova era de conflitos, em que o termo terror antes era usado para fins políticos. Agora entramos na ‘era do terror líquido’.” O sociólogo pontua ainda que o acesso limitado a armas impediu um massacre maior.

“Não podemos explicar qualquer dos massacres em escolas já ocorridos no mundo, quiçá o do Brasil, sem pensar até quando a cultura do ódio alimentará mais formas de terror contra os mais indefesos, os mais frágeis e os que mais amamos: nossas crianças. Matar crianças é destruir a inocência do mundo.”

Thadeu Brandão ressalta também uma crítica à cultura de fomentar o ódio como forma de política. “Bolsonaro foi responsável? Como indivíduo, obviamente não. Mas como presidente da República, como político que foi a maior parte da vida, mais do que militar ou qualquer outra coisa, não tinha e não tem o direito de fomentar o ódio como forma de política”, conclui.

Facebook
Twitter
Instagram
WhatsApp